REPORTAGEM/Porto Novo: População de Dominguinhas diz-se abandonada “à sua própria sorte” e clama por “olhar do Governo”
REPORTAGEM/Porto Novo: População de Dominguinhas diz-se abandonada “à sua própria sorte” e clama por “olhar do Governo”
***Por Jaime Medina, da Inforpress***
Porto Novo, 07 Fev (Inforpress) – Santo Antão possui ainda perto de 20 comunidades isoladas que precisam ser desencravadas e Dominguinhas, no interior do município do Porto Novo, é, para a população local, “sem sombra de dúvida, uma das mais isoladas” nesta ilha.
O percurso até Dominguinhas, ou se quiser, o primeiro povoado de Alto Mira, faz-se a pé por um caminho vicinal, que precisa ser reabilitado.
Depois de duas horas de caminhada, a partir do segundo povoado, chega-se, finalmente, a Dominguinhas, uma zona de grande potencial agrícola e turística, cuja população olha para o futuro desta localidade “com muita apreensão” devido ao problema do isolamento.
O presidente da associação comunitária “Amigos Unidos de Dominguinhas”, Ilaurindo Baptista, pede, por isso, ao Governo para “olhar” para essa localidade, cujo futuro estará comprometido sem uma estrada de acesso, avisou.
“Sem estrada não se pode fazer nada. Os agricultores estão limitados. Produzem, mas nem sempre conseguem fazer o escoamento dos produtos e quando o conseguem através do dorso dos animais (burros) os excedentes chegam ao mercado já estragados”, explica o líder associativo, informando ainda que os doentes são transportados nos ombros das pessoas.
Para Ilaurindo Baptista, Dominguinhas tem muitas potencialidades agrícolas e turísticas, mas sem estrada e deparando-se com o problema do desemprego, essa comunidade está a enfrentar o fenómeno de despovoamento.
Aliás, avançou este responsável, “a grande maioria” dos jovens já saiu de Dominguinhas em direcção a outras ilhas ou para emigração, situação que, a seu ver, está a comprometer a actividade agrícola nessa zona, que está a perder a sua força de trabalho.
No seu entender, o Governo devia tomar como prioridade a construção da estrada para Dominguinhas e pediu à Câmara Municipal do Porto Novo para “olhar mais” para esse povoado, promovendo, por exemplo, o trabalho público para a ocupação dos jovens, que estão a ser obrigados a deixar a localidade.
“Por exemplo, os caminhos vicinais estão a precisar de uma intervenção e isso pode dar empregos aos jovens”, propõe o presidente da associação comunitária “Amigos Unidos de Dominguinhas”.
Conversando com os moradores, todos, em excepção, apontam a falta de uma estrada como a principal preocupação, mas também indicam o desemprego como um outro “grande constrangimento” que tem condicionado a vida da população.
“Aqui em Dominguinhas estamos abandonados. Quem de direito deveria olhar para esta zona. Não há estrada e os jovens, sem alternativa, estão a sair para outras ilhas e para a emigração”, declarou a moradora Silvestra Andrade.
Para o jovem Davilson Lima, “viver em Dominguinhas é muito sacrificado”, adiantando que sem estrada os burros têm sido “o socorro” da população, quando se fala do transporte dos produtos de primeira necessidade e escoamento dos excedentes agrícolas.
“Aqui a prioridade é a estrada. Sem uma via de acesso não vale a pena os agricultores produzirem porque toda a produção agrícola se perde antes de chegar ao mercado. As pessoas estão a cultivar para nada. Estamos mesmo abandonados à nossa própria sorte”, sublinhou este jovem.
Para Francisca Lima, uma anciã de 90 anos, “a vida em Dominguinhas é muito difícil”, já que “nem o Governo e nem a Câmara Municipal do Porto Novo olham para Dominguinhas”.
“Não temos uma ponta de estrada. A população vive por conta própria. O escoamento dos produtos agrícolas é muito complicado, já que é feito através de burros e muitas vezes acabam por se estragar antes de chegar ao mercado”, avançou Francisca Lima, que alertou para o “abandono” de Dominguinhas.
Por sua vez, Carlos Fortes, ex-lider associativo, disse que “a vida está muito difícil” nessa localidade que “sonha desde sempre com uma estrada”, a qual não tem passado de promessas dos políticos nas campanhas eleitorais”.
“Mas estamos à espera deles agora nas eleições autárquicas. Vamos dar a resposta que eles merecem nas urnas”, sublinhou este residente.
“Felizmente temos ainda em Dominguinhos um grupo de jovens corajosos que faz a deslocação dos doentes”, disse Isaulina Rodrigues, mas, prevê, caso a situação continue, com o isolamento e falta de trabalho, esses jovens vão acabar por sair também dessa zona.
Todos os residentes estranham o facto de o Governo ter priorizado a requalificação das estradas para Ribeira Fria e Ribeira dos Bodes, também no concelho do Porto Novo, em detrimento da construção da via para Dominguinhas, que consideram “uma das zonas mais isoladas de Santo Antão”.
António Vaz, produtor do grogue, disse enfrentar também dificuldades para escoar o seu produto, considerando que Dominguinhas merece mais atenção da edilidade porto-novense e do Governo pela importância que esta zona tem a nível da agricultura.
O presidente da associação dos agricultores em Alto Mira, Idarlino Fortes, enaltece também as potencialidades agrícolas de Dominguinhas, onde há muita água, mas, no seu entender, sem estrada o futuro da agricultura nessa zona estará comprometido.
Produz-se de tudo um pouco em Dominguinhas, desde a mandioca, repolho, cenoura, coentros, pimentão, mas todo esse potencial pode estar com os dias contandos caso o Governo continue a adiar a construção da estrada para Dominguinhas, segundo Francelino Andrade, um dos muitos emigrantes naturais dessa localidade.
Os jovens estão a sair dessa localidade por causa do isolamento e Dominguinhas está, por isso, a perder a sua população activa, avançou este emigrante, de férias na zona natal, adiantando que caso houvesse estrada os conterrâneos naturais de Dominguinhas estariam na disposição de investir nessa zona, designadamente no turismo.
A zona de Faial, também em Alto Mira, clama por uma estrada de acesso.
O edil do Porto Novo, em conversas, já por várias vezes, com a Inforpress sobre a estrada para Dominguinhas, destacou essa via como sendo “um desígnio” do seu município, assegurando que o Governo está ciente dessa necessidade.
JM/ZS
Inforpress/Fim