São Vicente: Investigadora exorta cabo-verdianos a assumirem Antónia Pusich como figura nacional (c/áudio)

24-05-2024 18:44

Mindelo, 24 Mai (Inforpress) – A investigadora portuguesa Maria de Lurdes Caldas desafiou os cabo-verdianos a assumirem a primeira mulher de letras do País, Antónia Pusich, como figura nacional e não deixarem morrer o seu legado que transpassa diversas áreas.

A investigadora, que também é autora do livro “Antónia Pusich, Uma mulher invulgar”, deixou o repto durante uma conferência realizada na quinta-feira, 23, no Centro de Língua Portuguesa do Mindelo, para estudantes da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e outros espectadores.

Durante o evento, que foi presenciado pela Inforpress, Maria de Lurdes Caldas passou um breve olhar sobre a vida da escritora nascida na ilha de São Nicolau, em 1805, filha de mãe portuguesa e pai croata, que foi intendente da Marinha e governador-Geral de Cabo Verde.

Realçando os “feitos extraordinários” da cabo-verdiana, que viveu a maior parte da sua vida em Portugal, ressaltou o facto de ser preciso dar a conhecer mais Antónia Pusich e a “ressuscitar” como figura nacional.

No seu caso, disse estar a organizar algumas actividades, juntamente com outros parceiros, para assinalar os 220 anos de nascença de Pusich, desde conferências nas cidades da Praia e do Mindelo, exposição bio-bibliográfica, e espera o mesmo das autoridades.

“Esperemos que, em 2033, quando se celebrar os 150 anos da sua morte, então assim, seja um acontecimento verdadeiramente nacional”, exortou, lançando o desafio tanto para as autoridades cabo-verdianas, como para as autoridades portuguesas, que acredita estarem a portar-se “muito mal” neste quesito.

Razões para a valorização de Antónia Pusich diz não faltar, uma vez que a mesma foi pioneira em diversos domínios, a começar por ser a primeira mulher a fundar, dirigir e ser redactora principal de um jornal, e que escrevia o seu nome no cabeçalho do periódico, “o que não era pouca coisa em meados do século XIX”, sublinhou.

Por outro lado, enumerou, teve intervenção política, chegando mesmo a fazer campanha eleitoral para o político português António Bernardo da Costa Cabral, “afrontava” assembleias e foi uma lutadora pelo acesso das mulheres à instrução, que não apenas à instrução primária, não apenas aos bordados e ao piano e ao francês, mas à uma instrução mais literária e científica.

“Ela foi pioneira em várias áreas e por isso não a devemos esquecer, mesmo que não tivesse produzido tanto como produziu. E realmente ela produziu em vários géneros literários”, considerou Maria de Lurdes Caldas, lembrando que Pusich escreveu o primeiro romance de autoria cabo-verdiana, ““Olinda ou A Abadia de Connor Place”, escrito em 1844, publicado em 1848.

Obra essa que foi agora reeditada pela Livraria Pedro Cardoso Editora e que, no entender da investigadora portuguesa, deveria ser de consulta obrigatória.

Tudo isso para que a nova geração possa conhecer e se interessar pela “dimensão enorme” desta mulher, que foi o “símbolo de resiliência” de um Cabo Verde “com mais de 500 anos de história e que precisa ser estudado e investigado, através de figuras como Antónia Gertrudes Pusich e várias outras que estão escondidas no túnel do tempo”, tal como o repto lançado pela Maria de Lurdes Caldas aos estudantes.

Como forma de incentivo, no próximo mês de Junho, na Cidade da Praia, vai ser realizado um programa à volta da escritora cabo-verdiana, desde exposição bio-bibliográfica, recital de poemas, sarau musical e ainda o lançamento do livro editado pela Livraria Pedro Cardoso.

LN/JMV
Inforpress/Fim

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