Conferencistas internacionais debatem a questão da raça e da escravatura nos impérios coloniais europeus
Conferencistas internacionais debatem a questão da raça e da escravatura nos impérios coloniais europeus
Cidade da Praia, 31 Jan (Inforpress) - A cidade da Praia acolhe hoje a conferência internacional sobre a Raça e a Escravatura nos impérios Coloniais Europeus, cujo objectivo é discutir a relação entre a raça e a escravatura e perceber as dinâmicas históricas.
São mais de 30 conferencistas de diferentes países, como os Países Baixos, Bélgica, Portugal, EUA, Mali, Burkina Faso, Brasil, Cabo Verde a participarem do evento.
O objectivo da conferência, que tem a duração de três dias, consiste sobretudo, segundo um dos organizadores, Jair Pereira, em promover o debate sobre a questão da raça e da escravatura, perceber a relação e formular uma análise interdisciplinar e transdisciplinar sobre os temas.
Adiantou ainda que a pretensão é discutir várias questões que se prendem com preocupações contemporâneas, por exemplo racismo estrutural, institucionalizado, as mentalidades, num patamar académico.
"Queremos perceber as dinâmicas históricas, sociológicas, políticas, económicas, religiosas, ideológicas subjacentes aos debates contemporâneos sobre a questão da raça e escravatura”, explicou Jair Pereira.
Conforme apontou a investigadora e professora da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Margarina Sexies, pretende debater aspectos ligados à cor, raça e características físicas dos escravos no Direito português.
Características diferentes, que conforme Margarida Sexies, podem ser encontradas, por exemplo, nos textos do século XV, XVI e a partir de certa altura com essa diversidade vai desaparecendo.
Na sua intervenção adiantou que a discussão prende-se também em perceber os textos jurídicos portugueses, “principalmente aquela ideia de escravos como negros. Porque é que tínhamos referencia a escravos de muitas cores, de muitas características e a partir de certa altura começamos a ter referencia apenas de escravos negros, explicar essa transformação e do porque é que aconteceu”, citou a investigadora.
“Penso que as coisas podem mudar e tem de mudar à medida que nos apercebemos que temos pessoas de todas as cores, de todas as características em todos os lugares e principalmente nos lugares de decisão”, sublinhou a investigadora.
Por outro lado, o investigador Robson Costa, aborda a questão voltada para a miscigenação que é um ponto “muito forte” na história do Brasil.
Considerou Robson Costa que a miscigenação não anula e nem impede o racismo pelo que pretende abordar na conferência as conexões entre Brasil e África, sendo o Brasil o país que mais recebeu africanos”, frisou.
“Até o século XIX a religião contribuiu para esse preconceito, que essa questão da cor tivesse um papel muito forte, usavam termos bíblicos para se justificar a escravidão, historias que remetem ao passado”, lembrou Robson Costa.
Os investigadores entendem que esta conferência pode resultar num “maior contacto” com as pessoas dos diferentes países e transportar as investigações dos cabo-verdianos para fora do país, pelo que para além da discussão teórica, permite promover acções, contacto com a sociedade civil e instituições que ajudam a promover o combate à desigualdade e o racismo.
O evento, que arrancou hoje na cidade da Praia e vai até o dia 02 de Fevereiro, é organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional de Cabo Verde, a Universidade de Santiago, o Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra, o Instituto de Estudos Filosóficos da Universidade de Coimbra, a Universidade de Cabo Verde, e a Escola Universitária Católica de Cabo Verde.
OS/ZS
Inforpress/Fim